sábado, 7 de novembro de 2009

Na janela...



Eu abro a janela e mal consigo acreditar! Inspiro um milhão de cores e expiro uma explosão de flores, escapando afoitas do meu peito. Eu abro a janela e mal consigo acreditar: estou viva! O Universo, com os seus treze bilhões de anos, concedeu-me um intervalinho no tempo, que eu chamo dia, e o começa assim, com uma manhã cheia de flores! Ah, é demais para mim! Todos os dias, eu abro a janela e me dá vontade de chorar. É tudo tão bonito, tudo tão… inacreditavelmente perfeito e encaixado que nem a maldade dos homens, de seis bilhões de homenzinhos pequeninhos, pode ser maior do que o conjunto das estrelas erradias, ainda mais quando metade de cada homem também é amor… Então, o que importa se eu perdi o ônibus, se a chuva despencou na minha cabeça, se ela me disse um desaforo, se nem meu amigo ele quer ser… o que importa?
Há uma pequena chance na minha janela, que eu chamo dia, para extravasar o meu amor, cultivar um amigo, conhecer a história de uma senhora ou me aproximar de um vizinho, abraçar alguém que eu gosto muito, ligar para um velho amigo, viver, viver e viver? Ah… como eu posso reclamar da vida? Eu estou viva! E foi por um triz. Quando alguém olha para você e estende aquele dedo do meio, ele está querendo dizer: “Escuta aqui, você não é mindinho, não é o fura-bolo e, muito menos, o cata-piolho! Você é o maior de todos, amigão!!! Você é o maior de todos!!!”
Pode até parecer que sim, mas o meu mundo não é cor-de-rosa. A minha alegria brota das coisas tristes que eu vejo ao redor. Quando Mãinha não tem o que dar de comer aos filhos, mas divide um grão de arroz, com bom coração. Quando o ladrão me assalta, mas divide o meu dinheiro comigo. Quando o moço me estende o dedo do meio e me faz recordar brincadeiras de criança.
Assim é a minha alegria! É quando o feio do mundo tenta, mais que tudo! apesar de tudo! parir um instante de beleza e é esse instante, que na próxima fração de segundo escapará da minha câmera, que me comove e me arrebata, como se eu abrisse os braços e acolhesse o mundo: um bichinho ferido, carente de amor. E isso é maior que tudo, mais lindo que tudo, muito mais lindo do que se o mundo fosse perfeito.

Rita Apoena

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