quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Nossas Estações...

Primavera




















Porque aquelas tantas flores e cores eram apenas exteriores naquela primavera de um ano que não sei mais. Dentro de mim era um cinza de lembranças do fim pré-sentido. Poeira nas fotografias em preto e branco e o antigo que se faz presente irremediavelmente, o fado mais triste insistia.
Você com seu guarda-sol enorme colhendo flores, antes do temporal. Sem perceber que era o temporal todos aqueles anúncios de alegria em outdoors invisíveis e aquele amor nosso que parecia tão contrário quando falávamos de fim, porque a vida insistia dessa maneira. Um eterno rasgar a pele e sarar após e nós numa repetição em acreditar e desde então e agora essas tantas flores e cores apenas exterior.

Verão




















Sempre esse mormaço... O calor que sinto quase desmaio de tantas lembranças... Acordando suada com a louca quentura dos sonhos que tenho contigo. Banho frio ás 6 da manhã para esfriar os pensamentos dos desejos ardentes. Os vestidos leves, as pernas de fora, o nosso cheiro sempre no ar.
A sensualidade brotava e depois de amar quando eu abria à janela, nenhum sol, as nuvens meio cinzas cobriam tudo. Era um calor com tristeza e eu não queria acreditar, uma tristeza que aquecia, uma transformação lenta e era você.

Outono














E o outono insistia, batia portas, derrubava os quadros, estilhaçava as vidraças do que era frágil. O que poderia ser apenas e obviamente anúncio de tempestade ou da estação seguinte ou qualquer outra coisa passageira era o alarme do adeus inevitável. E desde então e agora essa ausência dentro de mim.
No silêncio e no meio de tudo que restou passado: teu retirar meus cabelos da face e segurar minha saia durante o vendaval e além de todas as coisas, principalmente me segurar porque eu nunca soube se permanecia ou não até o limite sustentável da conveniência. O acender da tristeza, a desfolhação era interna e minha, o resto insistia. As flores, folhas e cores presas nos galhos fingindo-se intactas. Quando percebi já era cinza...

Inverno
















O inverno sempre como teu abandono, minhas lágrimas caindo como e com a chuva... Enquanto permanecíamos firmes remando contra a correnteza... Ainda nos restava à lembrança do que éramos e a eterna espera pelo além do presente. Mais a tempestade foi devastadora e levava contigo em enxurrada tudo o que tínhamos, perdemos tudo, ficou apenas o que existia dentro e mesmo assim bem “bagunçado” com a ventania...
O frio se alastrou, foi congelando, nós fomos esfriando e a água toda continuava, em meio ao alagamento de nossas vidas fomos arrastados, ainda que em um surto relâmpago avistei um guarda-chuva, mais já era tarde demais pois a tempestade levou tudo o que tínhamos e só nos restou o frio ardido dentro dos corpos estremecidos.


By Flor


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Cala a boca coração...



Estou contando as horas pra calmaria chegar, faz tempo que estou contando e não me canso, não me vejo a cessar, ainda estou com frio e molhado ainda sou, toda noite acordado pelo pecado, eu sei que você poderia me dizer muito, mas eu prefiro tapar os meus ouvidos quando você fala, eu prefiro esquecer que você existe, por mais que isso seja impossível.
Você sempre sorridente vem me dizer o que devo ou não fazer e quando vê minha reação esquece o teu sorriso se pondo aos prantos, mas de que adianta ter o prazer de chorar, se não tem a calma de agir, de que adianta ser tão grande, se o medo te diminui a cada dia, reduzindo também a suas vontades e por assim dizer, levando ao delírio a minha mente. Eu fico aqui te olhando encolhido e reparando no quanto é insistente, no quanto bate na mesma tecla, vejo que seu compasso e descompassado e sem nexo, que seus gritos são baixos, tanto que eu quase me esqueço de ouvir e enquanto caminho, marcando com os pés a areia salgada da praia, uma pequena chama vai se apagando dentro de mim, bem perto do cantinho que reservei pra você, dentro do peito. Mesmo assim os finais da onda que vai tocando aqueles pés os empurram e fazem andar a praia inteira, como se ela não fosse acabar eu me esqueço até de distinguir o asfalto quente, daquela areia que acabei te lembrar. E como tudo podia ser verdade, como o sol podia ser tão claro, como a noite tão estralada, como a brisa podia me acalmar e o vento deixar de me assustar, mas não, eu insisto e peco ao alimentar esses sentimentos em você, deixo de te ligar a mente e sempre acabo limpando os mares que ponho pelos olhos, por sua causa, causa minha, causa nossa. Então cala a boca agora, sua inutilidade me enoja me enraivece, me faz pensar ainda mais em fazer-te calar a força, por mais que isso doa, ou possa me ferir, eu não quero te escutar, não quero que você me guie por onde os apaixonados sempre andam, por entre os espinhos, deixando as pétalas para os cafajestes sem amor, deixando a glória em poder da mentira, a paz nascer dos fracos, porque eu tão forte não posso te dominar, enquanto minha alma queima por te amar, por te deixar viver.
Com essa indignação eu ainda estou contando as horas, precisaria de mais ponteiros, mas me contento só com três, o bastante é pouco pra mim e como dizem, nem que eu te desse a lua você iria deixar de desejar as estrelas, ou nem que eu te desse as estrelas você ia deixar de querer o céu, na verdade não dizem isso por ai, mas digo por aqui, onde você é minha única companhia e o pior, é que culpa minha, culpa sua, ou sei lá de quem é a culpa, dane-se a culpa, porque ela não mora no mesmo lugar que você, ela simplesmente é o lugar em que você mora, pois quando eu a mandei de volta para pra mentira, esqueci que não poderia enviar o remetente, agora toda noite quando a janela me mostra o que eu estou perdendo da vida, ela vem, entra pelo vão que existe em você e não quer mais sair, não quer me deixar, então Coração cala a boca, fica quieto, me deixa te apertar quando doer, me deixa chorar quando sofrer, porque hoje é você e eu e todas as pessoas, com nada para fazer, nada para perder e é você e eu e todas as pessoas e eu não sei por que não consigo tirar meus olhos de você.


J. Blanca...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Conflitos


Pessoa difícil de lidar que não costuma facilitar muito as coisas e, freqüentemente, possui o mau hábito de dificultá-las bastante. Como quando parece absurdo, como quando parece sarcástico, ou quando parecia não se importar com meus caros apelos e era, na verdade, apenas sua forma torta de lidar com o sofrimento e a dor iminente. Negando-se a encará-los de frente, como se não importasse como ou onde fosse, seria sempre difícil de viver os fatos.
É muito difícil aceitar a idéia de subtrair-me como se eu não tivesse a importância que na verdade tenho, mesmo sabendo que tudo é parte do fardo da vida e da constante evolução... Sei que sempre terá por mim o mesmo carinho e a mesma ternura que lhe dispenso agora e desde sempre. Tudo igual, ou quase... O que não significa prender-se ao passado ou deixar de viver o futuro.

Estou aprendendo a viver sem você e me habituando a viver completamente sozinha. Ainda assim, não é difícil perceber que isso não me é, nem nunca será, confortável. E quem se refaz por completo de todas as suas perdas? Ninguém, por certo... Eu sei está reconstruindo sua vida e, mesmo sendo isso que eu realmente queria ainda me é estranho encarar as novas formas do mundo à minha volta e tornar-me indiferente à falta que me faz. Você e a nossa vida. Sobretudo a nossa vida. É uma certa resistência às mudanças inevitáveis que se contrapõe ao pavor que mantenho enraizado por tudo aquilo que é imutável...
Você já gosta das mudanças freqüentes, das idas e vindas constantes a que se submete. Das trocas de rumo, mudanças de rota, vislumbres de novos e revistos horizontes. Seu mundo se refaz em cores diferentes e até dos tons de cinza que se desmembram dos pretos no branco dos seus olhos. Mas são as cores amareladas dos tormentos pretéritos que abomino e procuro evitar...
Sinto-me presa ao passado, as emoções e a sabores ainda presentes na lâmina amarga da saudade que perfura minha carne. Principalmente quando invade espaços ainda não preenchidos de meu corpo. Deixando vazar junto ao sangue lembranças, cheiros, gostos, cores, texturas, imagens, risadas, choros, respirações, músicas e suspiros. Estou reconstruindo a minha vida ao longo da envergadura de meus braços, embora isso implique sempre, e inevitavelmente, em demolição e desmanche de alguns dos pilares já estabelecidos e, freqüentemente, bastante sólidos. Implodindo em angustias e feridas expostas, muitas delas profundas.
E você em meio a dúvidas inquietantes e certezas angustiantes que transpiram da sua natureza conflitante, da sua impulsiva coragem de ir, mais e mais longe. Por não saber se ainda é hora de ficar, por não saber ter ainda a coragem de parar, ou, por não conseguir poder decretar o sempre adiável deflagrar do inevitável momento de ser, enfim, estável...
Talvez você esteja indo com sabor de vitória misturado a um deixar com gosto de saudade. Uma apreensão carregada de tristeza e medo de um futuro familiarmente estranho. Pode ter sido ou estar sendo profunda à dor, mas a verdade é que: no fundo, no fundo, tudo o que sabe fazer é partir...

By Flor

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A pior dor de todas...




Foi o dia em que perdi todos os meus sentidos em pró de um sentimento não recíproco... Sinto no íntimo a dor mais intensa, jamais adoeci de tal maneira... Foram planos destruídos, palavras jogadas ao vento, toda uma dedicação inútil... O querer bem, o cuidado, o carinho, a amizade, foi tudo em vão e jogado fora em segundos...
Sinto-me tola, enfraquecida e machucada no coração, verdadeiramente machucada e magoada. Ao ouvir as palavras de rejeição quase tive uma síncope, a cabeça rodou, o coração quase parou, as lágrimas cursaram livremente e incontroláveis... Certamente foi a dor mais sentida de todas, nunca conseguirei descrever de fato o tamanho da dor sentida...
De repente tudo em que acreditava, tudo pelo que lutei e agora por onde recomeçar? Acreditar no que? Em quem? Lutar como?
Foi a noite mais angustiante... O cheiro, a pele, o toque... Tudo pela última vez...
Acordei assustada, chorei de soluçar e percebi que não era um pesadelo, era a minha própria vida em uma realidade de horror... Nem mais e nem menos, a dor e a angústia permaneceram ali, intactas, me devorando...
Levantei a custo, ainda forcei para me agarrar ao meu sonho de felicidade que estava me abandonando sem muitas respostas...
A despedida foi a coisa mais terrível que experimentei, ainda não conseguir discernir o sonho da realidade. O último abraço, o último beijo, o último olhar... Meu coração foi partindo junto, levando minhas forças, minhas esperanças, meus anseios...
De volta ao meu canto, meu quarto todo decorado a gosto... Me espalhei na cama, dispedacei, quebrei, estilhaços e pedaços podiam ser recolhidos por todos os lados e há quilômetros, vim quebrando, quebrando, perdi vários pedaços e por fim me deitei aos farelos de vidro que saiam de mim...
Me deparei com a difícil decisão de seguir em frente, sozinha, superar tudo e forçadamente sepultar tudo em que acreditei e lutei... Meus estilhaços estavam todos espalhados, perdidos e pra juntar tudo? Aliás cadê a força?
Com certeza absoluta uma facada não doeria mais...
Por fim, me vi vencida pelo cansaço dos cortes e ainda sangrando muito consegui me conciliar com o sono...


By Flor

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Por um momento...



Quero um pedacinho de tempo para poder descansar esse peso do mundo que estou sentindo em meus ombros... Um tempo onde não me perguntem nada, nem me peçam nada, apenas me permitam o direito de dar vazão ao pranto que venho engolindo com o café da manhã de todos os dias, enquanto visto a máscara de "olhem como sou valente e forte"...
Quero ser a criança que pode chorar livremente sob o tempo nublado da manha, até que me ponham no colo, restabelecendo assim o equilíbrio de que necessito para dormir em paz.
Quero ser menina novamente e me esconder no vão da escada para que todos me procurem e se preocupem comigo (ainda que, ao me encontrarem, me ponham de castigo pela traquinagem...).
Quero ser a adolescente despertando para o primeiro amor e poder vislumbrar no horizonte o barco que vem me tirar daqui e me levar para longe da escuridão e do frio...
Quero ser a mulher que teme o amanhã, que se angustia com aquilo que não ousou e se amedronta com o que há ainda por realizar...
Quero ser a aventureira em busca dos sonhos, sem ter que vê-los pintados com as cores do desânimo ou coloridos com as cores do impossível, e quero poder brincar, eu mesma, com meus sonhos como se fossem massinha de modelar ilusões... Lambuzar neles meus dedos até decidir quando precisam se desfazer...
Quero ser amiga, também, nas horas em que tudo pareça ter se perdido e encontrar apenas um ombro onde possa repousar meu cansaço, um ombro que seja tão somente silencioso... e impregnado de compreensão.
Quero deixar que me invada toda a dor do mundo neste instante, porque ela é minha, é real e é única, e que, como tal, seja aceita e compreendida... mesmo que eu não a aceite e não saiba lidar com ela...
E quero poder dizer isto — deste jeito: “ESTOU DOENDO, SIM” — sem assustar ninguém, causando uma revolução tão grande que meu mundo pareça ainda mais desabitado...
Daqui a pouco tudo vai parecer diferente e novo, eu sei. Vou secar os olhos e vou à luta outra vez e da dor hei de ressurgir mais fortalecida... porque sou noventa e nove por cento feita de matéria que dificilmente se desintegra...
Então, por favor... Por um momento apenas... Neste meu pequeno momento mais que humano, neste meu miserável um por cento de fragilidade, me deixem ser igual a todo mundo... e simplesmente chorar...


By Flor

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